O poeta

Por Menalton Braff

Antonio Ventura e Menalton Braff
O poeta é sua poesia porque são duas instâncias que não se podem separar. E assim como Antonio Ventura está em sua poesia, sua poesia está em Antonio Ventura. "Como é fabuloso ser eu, e não o outro.", diria Ventura em um de seus poemas curtos, uma declaração que por si revela o quanto o poeta se desnuda em poesia. Seu sangue, vermelho e quente, percorre os versos e mantém a pul(sa)ção poética, este impulso a que o verdadeiro poeta não resiste.

A esse poeta cuja essência é o lirismo, entretanto, sucede o homem irreverente em longos poemas, de versos também longos, em que transparece Rimbaud, o poeta maldito de talento irrefreável. Assim como na poesia do poeta francês, a leitura da poesia de Antonio Ventura muitas vezes pode ser iniciada pelo fim, pelo meio e até pelo início mesmo. E isso o torna um dos maiores expoentes rimbaudianos entre nós.

Em outros momentos, vamos encontrar Antonio Ventura praticando a prosa poética em que a volúpia da palavra suplanta qualquer necessidade de informação. A dimensão estética não sofre a concorrência de qualquer outra área, pois é a isso mesmo que se chama poesia.

Em versos longos ou curtos, em prosa ou verso, mas sobretudo nos versos longos e em sua maneira de fazer prosa, uma das fortes tendências de Antonio Ventura é o trabalho com a escrita automática, o fluxo da consciência, à maneira surrealista.

O poeta não se filia a uma corrente, a uma estética determinada, porque sua síntese é o que se pode chamar de poesia moderna.

*Cronista e romancista


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